quarta-feira, 3 de outubro de 2012


Diet ou light: Qual a diferença?

Quando se fala ou se pensa em produtos que possam ser diet e/ou light, é importante mostrar como os consumidores usualmente compreendem o tema. Investigações sobre o assunto revelam que os produtos diet são entendidos, prioritariamente, como alimentos que não contêm açúcar, de baixa caloria, destinados a quem faz dieta para manter o peso. Alimentos com baixo teor de gordura (light) estão associados ao combate ao colesterol e relacionados a questões de saúde. Há restrições aos produtos diet quanto ao sabor "ruim" e, provavelmente, ligadas ao preconceito de que, se consumidos em excesso, estes podem fazer mal à saúde; os light são, ainda, percebidos como produtos que perdem valor nutritivo (Cândido e Campos, 1996).
Além disso, a maioria das pessoas, escolarizadas ou não, têm mitos sobre os produtoslight e diet, como, por exemplo, consideram que o produto diet não engorda, que todo produto light é igual, que todo light é diet.
Aqui, vale lembrar que os produtos diet, mesmo não tendo açúcar, podem ser calóricos, e que os produtos light são mais indicados para quem quer emagrecer. Esses produtos podem ter diferentes ingredientes e formulações e até a redução calórica pode variar; portanto, os produtos light não são iguais entre si e diet não é sinônimo de baixa caloria. Desse modo, um alimento sem glúten, considerado diet por ter redução de mais de 99% em um ingrediente, pode ainda assim ter valor calórico elevado. Acrescenta-se, ainda, que diabéticos podem consumir alguns dos produtos light, pois tais produtos podem não conter açúcar. O ideal é que se consulte a informação nutricional no rótulo do produto para verificar as dosagens1.
Outro problema está na adoção dos produtos sem uma análise prévia de sua composição química, principalmente por pessoas que necessitam ou desejam perder quilos extras ou com necessidades dietoterápicas com exigências físicas, metabólicas, fisiológicas e/ou patológicas particulares. Assim, os mesmos alimentos diet ou light são muitas vezes consumidos tanto por pessoas diabéticas, quanto pelas hipertensas, ou com nível de colesterol alto ou, ainda, por aquelas que desejam emagrecer.
Todos os produtos, tanto diet como light, são importantes aliados das pessoas obesas, hipertensas e diabéticas. Mas isto não significa que possam ser usados indiscriminadamente, em quaisquer dessas situações, pois, por exemplo, um alimento lightnão é, necessariamente, indicado para pessoas que apresentam algum tipo de doença (diabetes, colesterol elevado...). Por isso é necessário analisar os componentes existentes e suas proporções, para saber se o alimento é adequado ou não para as necessidades da pessoa.
De acordo com as interpretações acima, podemos depreender quão problemáticas se tornam as ideias usuais dos consumidores, pois os termos light e diet representam contextos totalmente diferentes. E, como a grande maioria das pessoas não está suficientemente esclarecida sobre o significado dos termos, elas sentem-se pouco seguras em utilizar tais produtos, ou os utilizam de forma inadequada devido à falta de compreensão das declarações de rotulagem. O desconhecimento e o consumo inadequado dos produtos são decorrentes dos imensos vazios na compreensão dos artefatos tecnológicos, bem como dos fenômenos científicos. Esses vazios são mantidos nas escolas, quando são ignoradas abordagens situadas na perspectiva de Ciência, Tecnologia e Sociedade e quando há preocupação somente com conceituações nominalísticas e modelos abstratos que limitam o domínio crítico e a autonomia das pessoas.
A compreensão dos produtos e processos tecnológicos permite às pessoas apreciar, consumir corretamente e formular juízos de valor sobre argumentos relativos a questões socialmente controversas. É nessa perspectiva, então, que abordamos o tema diet elight.
O que é um alimento diet?
Diet é um termo usado na maioria das vezes como sinônimo de retirada de algum nutriente (açúcares, sódio, gorduras, alguns aminoácidos...), sem implicar, no entanto, na redução das calorias do alimento. Um alimento diet é aquele de cuja composição original foi "retirada" alguma substância e que serve às dietas especiais com restrições, por exemplo, de açúcares, de gorduras, de sódio, de aminoácidos ou de proteínas. Desse modo, os produtos sem sal são indicados para os hipertensos; os sem açúcar, para os diabéticos; os sem gordura, para os que têm excesso de colesterol; os sem o aminoácido fenilcetonúria, para os fenilcetonúricos etc. O Ministério da Saúde classifica esses alimentos como "alimentos para fins especiais". A portaria n. 29/98, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, definiu como "alimentos para fins especiais" aqueles especialmente formulados ou processados, nos quais são introduzidas modificações no conteúdo de nutrientes, adequados à utilização em dietas diferenciadas e ou opcionais, atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas específicas. São classificados como alimentos para fins especiais: a) alimentos para dietas com restrição de nutrientes, b) alimentos para ingestão controlada de nutrientes e c) alimentos para grupos populacionais específicos.
Assim, o termo diet pode ser usado tanto para alimentos destinados a dietas com restrição de nutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas, sódio), como também para dietas com ingestão controlada de alimentos (para controle de peso ou de açúcares).
Todavia, o que significam expressões tais como "ingestão controlada e restrição de nutrientes"? Alimentos destinados a dietas controladas são aqueles nos quais não é permitida a adição de determinado nutriente. Por exemplo, em alimentos que atendem à ingestão controlada de açúcar, não pode haver inclusão desse nutriente. Em tais alimentos, permite-se a existência do açúcar natural do alimento, como, por exemplo, a geléia diet, que tem a frutose como açúcar natural. Alimentos restritos em gorduras ou restritos em carboidratos podem conter no máximo 0,5 gramas do nutriente por 100 gramas ou 100 mL do produto. Como a quantidade de carboidratos e gorduras permitida nos alimentos com restrição é muito pequena, é comum a definição de alimento diet como sendo produto isento de um nutriente específico.
No entanto, é fundamental explicitar que nem todos os alimentos diet apresentam diminuição significativa na quantidade de calorias e, portanto, devem ser evitados pelas pessoas que querem emagrecer. Um exemplo clássico é o chocolate diet, que apresenta teor calórico próximo do chocolate normal. O chocolate diet é indicado para pessoas diabéticas, pois é isento (restrito) de açúcar (carboidrato). Nesse caso, o açúcar é substituído pelos adoçantes. Porém, como essa substituição altera a consistência do alimento, acrescenta-se mais gordura na sua composição para manter a textura habitual, o que faz com que o seu valor calórico se aproxime do chocolate normal, tornando-o não recomendável para as pessoas que desejam reduzir peso.
Assim, a retirada de um nutriente pode reduzir as calorias, mas é preciso verificar se a redução é suficiente para justificar a substituição do alimento convencional pelo diet. Por outro lado, pode haver produtos diet que sejam light.
O que é um alimento light?
A portaria 27/98, da Secretária de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, define que os termos "light" ou "lite" ou "leve" podem ser utilizados quando for cumprido o atributo "baixo".
Dizemos que um alimento é light quando apresenta redução mínima de 25% em determinado nutriente ou calorias, comparado com o alimento convencional. Para que ocorra a redução de calorias, é necessário que haja a diminuição no teor de algum nutriente energético (carboidrato, gordura e proteína). A redução de um nutriente não energético, por exemplo, sódio (sal light), não interfere na quantidade de calorias do alimento.
Nos alimentos light, também devemos estar atentos à possibilidade de terem sido acrescidas outras substâncias. Isto porque, na redução de um, pode ser necessária a adição de outro componente calórico (substâncias tais como: gordura, sódio, açúcar...) para minimizar alterações na consistência, na cor ou outras que possam ocorrer. Por exemplo, alguns queijos e requeijões light têm menos calorias por reduzir gorduras; entretanto, para manter a consistência, aumenta-se o sal, e este não é indicado para hipertensos (outro exemplo é o caso do chocolate citado anteriormente). Por isto, é fundamental explicitar para qual nutriente o atributo é aplicável. A utilização do termolight, por si só, não é suficiente para a compreensão da identidade do produto.
O Quadro 1 e as Figuras 1 e 2 apresentam as diferenças entre os produtos light dietcomparados aos produtos na sua versão normal. Embora o requeijão cremoso light(Quadro 1) apresente 188 kcal a menos que o requeijão normal, ele possui 5,54 g a mais de carboidratos que o requeijão normal. Ele está na categoria light porque apresenta menos gordura, mas a quantidade de carboidratos é maior.
Quadro 1: Comparação entre um produto light e um produto normal.
Quadro 1: Comparação entre um produto light e um produto normal.
Já o refrigerante light (Figura 1) não pode ser ingerido de forma não controlada por indivíduos hipertensos, uma vez que ele contém 30 mg de sódio e o refrigerante normal é isento de sódio. A gelatina diet (Figura 2) não contém açúcar, mas ainda contém 4 g de carboidratos.
Figura 1: Informações nutricionais em rótulos de refrigerante light (a) e normal (b). 
Figura 1: Informações nutricionais em rótulos de refrigerante light (a) e normal (b). 
Figura 2: Informações nutricionais em rótulos de gelatina light (a) e comum (b).
Figura 2: Informações nutricionais em rótulos de gelatina light (a) e comum (b).
Considerações finais
Abordagens sobre produtos light diet podem ser realizadas no ensino de Química inseridas numa perspectiva de ensino que priorize inter-relações entre conhecimento científico, tecnologia e sociedade. Tais abordagens, realizadas nessa perspectiva, proporcionam atitudes e ferramentas intelectuais necessárias ao aluno para julgar, avaliar e decidir no campo do domínio científico e tecnológico, pessoal e social. Diante do consumismo e da pseudociência, que levam a maioria das pessoas a adquirirem e ingerirem produtos sem uma consciência crítica fundamentada, torna-se necessária a abordagem de temáticas capazes de promover uma educação para a cidadania, o que implica uma construção pedagógica e científica de natureza inclusiva, na qual as pessoas possam realmente fazer opções conscientes.
Nota
1. Sempre tenha em mente que os rótulos dos produtos podem apresentar erros de informação! Veja o artigo De olho nos rótulos: Compreendendo a unidade caloria; QNEsc p. 10-13, v. 21, 2005.

  • Referências
    1. CÂNDIDO, L.M.D. e CAMPOS, A.M. Alimentos para fins especiais: Dietéticos. São Paulo: Livraria Varela, 1996.
  • Saiba Mais
    1. MARCHETTI, G. Inulina e fruttani. Industrie Alimentari, v. 32, n. 319, p. 945-949, 1993.
    2. COULTATE, T.P. Manual de Química y Bioquímica de los alimentos. Zaragoza: Editorial Acribia, 1996.
    3. PORTARIA n. 27, de 13 de janeiro de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
    4. PORTARIA n. 29, de 13 de janeiro de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
SILVA, Rejane M.G, FURTADO, Sandra T. F
Disponível em: http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=12 (acesso em 3 de outubro de 2012)

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