sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Que tal aprender um pouco mais de química nessas férias?

Ai vai a dica de uma exposição muito interessante que está rolando aqui no Rio, mais precisamente no MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins), cujo tema é "A Química na história do Universo,  da Terra e do corpo".
Vale a pena conferir!!!
O MAST fica na rua General Bruce nº 586, São Cristovão.
A exposição pode ser vista nos seguintes horários: terça, quinta e sexta (9h às 17h); quarta (9h às 20h); sábado (14h às 20h); domingo e feriado (14h às 18h)
Fica a dica.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Iluminação a custo zero


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Diet ou light: Qual a diferença?

Quando se fala ou se pensa em produtos que possam ser diet e/ou light, é importante mostrar como os consumidores usualmente compreendem o tema. Investigações sobre o assunto revelam que os produtos diet são entendidos, prioritariamente, como alimentos que não contêm açúcar, de baixa caloria, destinados a quem faz dieta para manter o peso. Alimentos com baixo teor de gordura (light) estão associados ao combate ao colesterol e relacionados a questões de saúde. Há restrições aos produtos diet quanto ao sabor "ruim" e, provavelmente, ligadas ao preconceito de que, se consumidos em excesso, estes podem fazer mal à saúde; os light são, ainda, percebidos como produtos que perdem valor nutritivo (Cândido e Campos, 1996).
Além disso, a maioria das pessoas, escolarizadas ou não, têm mitos sobre os produtoslight e diet, como, por exemplo, consideram que o produto diet não engorda, que todo produto light é igual, que todo light é diet.
Aqui, vale lembrar que os produtos diet, mesmo não tendo açúcar, podem ser calóricos, e que os produtos light são mais indicados para quem quer emagrecer. Esses produtos podem ter diferentes ingredientes e formulações e até a redução calórica pode variar; portanto, os produtos light não são iguais entre si e diet não é sinônimo de baixa caloria. Desse modo, um alimento sem glúten, considerado diet por ter redução de mais de 99% em um ingrediente, pode ainda assim ter valor calórico elevado. Acrescenta-se, ainda, que diabéticos podem consumir alguns dos produtos light, pois tais produtos podem não conter açúcar. O ideal é que se consulte a informação nutricional no rótulo do produto para verificar as dosagens1.
Outro problema está na adoção dos produtos sem uma análise prévia de sua composição química, principalmente por pessoas que necessitam ou desejam perder quilos extras ou com necessidades dietoterápicas com exigências físicas, metabólicas, fisiológicas e/ou patológicas particulares. Assim, os mesmos alimentos diet ou light são muitas vezes consumidos tanto por pessoas diabéticas, quanto pelas hipertensas, ou com nível de colesterol alto ou, ainda, por aquelas que desejam emagrecer.
Todos os produtos, tanto diet como light, são importantes aliados das pessoas obesas, hipertensas e diabéticas. Mas isto não significa que possam ser usados indiscriminadamente, em quaisquer dessas situações, pois, por exemplo, um alimento lightnão é, necessariamente, indicado para pessoas que apresentam algum tipo de doença (diabetes, colesterol elevado...). Por isso é necessário analisar os componentes existentes e suas proporções, para saber se o alimento é adequado ou não para as necessidades da pessoa.
De acordo com as interpretações acima, podemos depreender quão problemáticas se tornam as ideias usuais dos consumidores, pois os termos light e diet representam contextos totalmente diferentes. E, como a grande maioria das pessoas não está suficientemente esclarecida sobre o significado dos termos, elas sentem-se pouco seguras em utilizar tais produtos, ou os utilizam de forma inadequada devido à falta de compreensão das declarações de rotulagem. O desconhecimento e o consumo inadequado dos produtos são decorrentes dos imensos vazios na compreensão dos artefatos tecnológicos, bem como dos fenômenos científicos. Esses vazios são mantidos nas escolas, quando são ignoradas abordagens situadas na perspectiva de Ciência, Tecnologia e Sociedade e quando há preocupação somente com conceituações nominalísticas e modelos abstratos que limitam o domínio crítico e a autonomia das pessoas.
A compreensão dos produtos e processos tecnológicos permite às pessoas apreciar, consumir corretamente e formular juízos de valor sobre argumentos relativos a questões socialmente controversas. É nessa perspectiva, então, que abordamos o tema diet elight.
O que é um alimento diet?
Diet é um termo usado na maioria das vezes como sinônimo de retirada de algum nutriente (açúcares, sódio, gorduras, alguns aminoácidos...), sem implicar, no entanto, na redução das calorias do alimento. Um alimento diet é aquele de cuja composição original foi "retirada" alguma substância e que serve às dietas especiais com restrições, por exemplo, de açúcares, de gorduras, de sódio, de aminoácidos ou de proteínas. Desse modo, os produtos sem sal são indicados para os hipertensos; os sem açúcar, para os diabéticos; os sem gordura, para os que têm excesso de colesterol; os sem o aminoácido fenilcetonúria, para os fenilcetonúricos etc. O Ministério da Saúde classifica esses alimentos como "alimentos para fins especiais". A portaria n. 29/98, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, definiu como "alimentos para fins especiais" aqueles especialmente formulados ou processados, nos quais são introduzidas modificações no conteúdo de nutrientes, adequados à utilização em dietas diferenciadas e ou opcionais, atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas específicas. São classificados como alimentos para fins especiais: a) alimentos para dietas com restrição de nutrientes, b) alimentos para ingestão controlada de nutrientes e c) alimentos para grupos populacionais específicos.
Assim, o termo diet pode ser usado tanto para alimentos destinados a dietas com restrição de nutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas, sódio), como também para dietas com ingestão controlada de alimentos (para controle de peso ou de açúcares).
Todavia, o que significam expressões tais como "ingestão controlada e restrição de nutrientes"? Alimentos destinados a dietas controladas são aqueles nos quais não é permitida a adição de determinado nutriente. Por exemplo, em alimentos que atendem à ingestão controlada de açúcar, não pode haver inclusão desse nutriente. Em tais alimentos, permite-se a existência do açúcar natural do alimento, como, por exemplo, a geléia diet, que tem a frutose como açúcar natural. Alimentos restritos em gorduras ou restritos em carboidratos podem conter no máximo 0,5 gramas do nutriente por 100 gramas ou 100 mL do produto. Como a quantidade de carboidratos e gorduras permitida nos alimentos com restrição é muito pequena, é comum a definição de alimento diet como sendo produto isento de um nutriente específico.
No entanto, é fundamental explicitar que nem todos os alimentos diet apresentam diminuição significativa na quantidade de calorias e, portanto, devem ser evitados pelas pessoas que querem emagrecer. Um exemplo clássico é o chocolate diet, que apresenta teor calórico próximo do chocolate normal. O chocolate diet é indicado para pessoas diabéticas, pois é isento (restrito) de açúcar (carboidrato). Nesse caso, o açúcar é substituído pelos adoçantes. Porém, como essa substituição altera a consistência do alimento, acrescenta-se mais gordura na sua composição para manter a textura habitual, o que faz com que o seu valor calórico se aproxime do chocolate normal, tornando-o não recomendável para as pessoas que desejam reduzir peso.
Assim, a retirada de um nutriente pode reduzir as calorias, mas é preciso verificar se a redução é suficiente para justificar a substituição do alimento convencional pelo diet. Por outro lado, pode haver produtos diet que sejam light.
O que é um alimento light?
A portaria 27/98, da Secretária de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, define que os termos "light" ou "lite" ou "leve" podem ser utilizados quando for cumprido o atributo "baixo".
Dizemos que um alimento é light quando apresenta redução mínima de 25% em determinado nutriente ou calorias, comparado com o alimento convencional. Para que ocorra a redução de calorias, é necessário que haja a diminuição no teor de algum nutriente energético (carboidrato, gordura e proteína). A redução de um nutriente não energético, por exemplo, sódio (sal light), não interfere na quantidade de calorias do alimento.
Nos alimentos light, também devemos estar atentos à possibilidade de terem sido acrescidas outras substâncias. Isto porque, na redução de um, pode ser necessária a adição de outro componente calórico (substâncias tais como: gordura, sódio, açúcar...) para minimizar alterações na consistência, na cor ou outras que possam ocorrer. Por exemplo, alguns queijos e requeijões light têm menos calorias por reduzir gorduras; entretanto, para manter a consistência, aumenta-se o sal, e este não é indicado para hipertensos (outro exemplo é o caso do chocolate citado anteriormente). Por isto, é fundamental explicitar para qual nutriente o atributo é aplicável. A utilização do termolight, por si só, não é suficiente para a compreensão da identidade do produto.
O Quadro 1 e as Figuras 1 e 2 apresentam as diferenças entre os produtos light dietcomparados aos produtos na sua versão normal. Embora o requeijão cremoso light(Quadro 1) apresente 188 kcal a menos que o requeijão normal, ele possui 5,54 g a mais de carboidratos que o requeijão normal. Ele está na categoria light porque apresenta menos gordura, mas a quantidade de carboidratos é maior.
Quadro 1: Comparação entre um produto light e um produto normal.
Quadro 1: Comparação entre um produto light e um produto normal.
Já o refrigerante light (Figura 1) não pode ser ingerido de forma não controlada por indivíduos hipertensos, uma vez que ele contém 30 mg de sódio e o refrigerante normal é isento de sódio. A gelatina diet (Figura 2) não contém açúcar, mas ainda contém 4 g de carboidratos.
Figura 1: Informações nutricionais em rótulos de refrigerante light (a) e normal (b). 
Figura 1: Informações nutricionais em rótulos de refrigerante light (a) e normal (b). 
Figura 2: Informações nutricionais em rótulos de gelatina light (a) e comum (b).
Figura 2: Informações nutricionais em rótulos de gelatina light (a) e comum (b).
Considerações finais
Abordagens sobre produtos light diet podem ser realizadas no ensino de Química inseridas numa perspectiva de ensino que priorize inter-relações entre conhecimento científico, tecnologia e sociedade. Tais abordagens, realizadas nessa perspectiva, proporcionam atitudes e ferramentas intelectuais necessárias ao aluno para julgar, avaliar e decidir no campo do domínio científico e tecnológico, pessoal e social. Diante do consumismo e da pseudociência, que levam a maioria das pessoas a adquirirem e ingerirem produtos sem uma consciência crítica fundamentada, torna-se necessária a abordagem de temáticas capazes de promover uma educação para a cidadania, o que implica uma construção pedagógica e científica de natureza inclusiva, na qual as pessoas possam realmente fazer opções conscientes.
Nota
1. Sempre tenha em mente que os rótulos dos produtos podem apresentar erros de informação! Veja o artigo De olho nos rótulos: Compreendendo a unidade caloria; QNEsc p. 10-13, v. 21, 2005.

  • Referências
    1. CÂNDIDO, L.M.D. e CAMPOS, A.M. Alimentos para fins especiais: Dietéticos. São Paulo: Livraria Varela, 1996.
  • Saiba Mais
    1. MARCHETTI, G. Inulina e fruttani. Industrie Alimentari, v. 32, n. 319, p. 945-949, 1993.
    2. COULTATE, T.P. Manual de Química y Bioquímica de los alimentos. Zaragoza: Editorial Acribia, 1996.
    3. PORTARIA n. 27, de 13 de janeiro de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
    4. PORTARIA n. 29, de 13 de janeiro de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
SILVA, Rejane M.G, FURTADO, Sandra T. F
Disponível em: http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=12 (acesso em 3 de outubro de 2012)

sábado, 18 de agosto de 2012

Baunilha, um pouquinho mais sobre ela.


Quem não se agrada com o delicioso aroma de baunilha? Pois a molécula que comentaremos hoje também pode ser conhecida como vanilina ou ou, por meio das regras da IUPAC, como 4-hidróxi-3-metoxibenzaldeído, sendo tradicionalmente conhecida como aroma de baunilha. É um composto cristalino de cor branca, solúvel em clorofórmio e éter. Possui peso molecular de 152,14 g.mol-1 e fórmula química (CH3O)(OH)C6H3CHO
Figura 1: Estrutura química da vanilina. As diferentes cores das esferas representam os diferentes átomos presentes na molécula: hidrogênio (brancas), carbono (cinzas) e oxigênio (vermelhas) (Almeida e Ferreira, 2008).

De acordo com Pacheco, Junior e Morgado (2007):
“A vanilina é obtida tradicionalmente da vagem de uma orquídea tropical, a Vanilla planifolia [Figura 2] fazendo dela a única orquídea de interesse comercial fora do contexto ornamental. A publicação deste gênero de orquídea foi feita pela primeira vez, seguindo osistema de Linneus, por Miller, em seu “Gardener’s Dictionary”, datado de 1754, com o nome latinizado de Vanilla”. (p. 46)

Figura 2: Foto da orquídea Vanilla planifólia (Ortobotanico, 2008).
A vanilina já era cultivada e extraída da Vanilla planifolia pelos astecas muito antes da chegada do conquistador espanhol Hernán Cortés em 1519 que, por sua vez, além de introduzir outros produtos de importância financeira na Europa oriundos do Novo Mundo, tais como o corante cochonilha e o cacau, também introduziu a vanilina (Courteur e Burreson, 2006). Entretanto, o cultivo dessa orquídea não foi realizado com sucesso em clima europeu e, ainda hoje, são consideradas plantas de cultivo difícil. Esse fato deve-se principalmente à polinização a ser realizada por insetos que não existem na Europa. 
O maior produtor mundial de vanilina natural extraída da Vanilla planifolia é Madagascar, seguida por outros países como México, Tahiti e Indonésia (Bythrow, 2005).
Segundo Lomascolo (1999), mais de 12.000 toneladas de vanilina são produzidas por ano. Desse total, apenas 1% é extraída da planta, sendo o restante sintetizado. Os custos da vanilina natural oscilam entre US$ 1.200,00 e 4.000,00 por quilo, em contraste com o preço da vanilina sintética, cujo quilo custa menos de US$ 15,00.

Aplicações
A vanilina é um dos aromatizantes mais importantes, sendo largamente utilizado em alimentos, bebidas, perfumes e fármacos (Clark, 1990).
Existem várias espécies do gênero Vanilla, que crescem em locais diferentes e, consequentemente, produzem aromas que possuem leves variações. O aroma extraído da Vanilla fragrans é conhecido por possuir a melhor qualidade (Bourbon) para preparações alimentares como sorvetes, bolos, chocolates e bebidas. Os aromas extraídos da Vanilla tahitensis (Sul do Pacífico), Vanilla java (Indonésia) e Vanilla pompana (Antilhas) são utilizados em tabacos, sabonetes, perfumes e medicamentos (Almeida e Ferreira, 2008).
Aproximadamente 50% da produção mundial de vanilina sintética são usados como intermediário para síntese de herbicidas, agentes antiespumantes ou drogas tais como: papaverina, L-dopa, L-metildopa e agentes antimicrobianos (Figura 3). A vanilina também é utilizada para desodorizantes de ambientes e ceras para pisos e assoalhos (Almeida e Ferreira, 2008).

Figura 3: (a) Estrutura química da papaverina, (b) estrutura química da L-dopa e (c) estrutura química da L-metildopa.
Figura 3: (a) Estrutura 
A vanilina possui propriedades antimicrobianas e antioxidantes. O fato de o fenol e seus derivados possuírem ação antimicrobiana é conhecido desde 1800, quando o cirurgião Joseph Lister utilizou fenol para reduzir infecção em incisões cirúrgicas. O fenol e seus derivados lesam as células microbianas pela alteração da permeabilidade seletiva da membrana citoplasmática, causando uma perda das substâncias intracelulares vitais. Esses compostos também desnaturam proteínas como as enzimas (Pelczar e cols., 1997).

As propriedades antioxidantes da vanilina devem-se ao fato de esta interagir com espécies radicalares, evitando, dessa forma, os processos oxidativos (Angelo e Jorge, 2007).

Tais características justificam o amplo uso da vanilina em alimentos na condição de conservantes. Ainda assim, o efeito antimicrobiano da vanilina bem como de vários outros extratos vegetais ainda não é totalmente compreendido (Antoniolli e cols., 2004). Além disso, algumas pesquisas ilustram o seu potencial antimutagênico (Maurya e cols., 2007).

Produção da vanilina natural
A produção natural de vanilina é realizada por meio da colheita e maturação das vagens da orquídea. A vanilina encontra-se nas vagens sob a forma de gluco-vanilina, sendo que nessas condições não possui o aroma característico de baunilha. No entanto, após o processo de maturação que envolve a secagem e umificação das vagens e que pode durar até seis meses para ocorrer, a gluco-vanilina é hidrolizada enzimaticamente em glucose e vanilina (Figura 4). O conteúdo de vanilina extraído por esse processo é de aproximadamente 2,5% em massa (Hocking, 1997; Lampman e cols, 1977).

Figura 4: Esquema ilustrativo da hidrólise enzimática de gluco-vanilina em glucose e vanilina (Maurya e cols., 2007).  
Figura 4: Esquema ilustrativo da hidrólise enzimática de gluco-vanilina em glucose e vanilina (Maurya e cols., 2007).

A vanilina natural também pode ser obtida mediante um processo de extração com etanol (60% v/v) em temperaturas brandas ou por meio da extração com fluidos quentes, em que as vagens são adicionadas sobre grades situadas em tanques de aço, nos quais o solvente é recirculado por um período de aproximadamente duas semanas (Greener Industry, 2008). A extração com etanol das vagens ainda é o processo mais vantajoso para a obtenção da vanilina (Hocking, 1997).

As pessoas que trabalham com a extração de vanilina podem ser acometidas por uma enfermidade denominada vanilismo (Almeida e Ferreira, 2008). Esta é uma doença ocupacional que se caracteriza por provocar erupções cutâneas, irritações na pele e na membrana da mucosa nasal, insônia, dor de cabeça, menstruação excessiva e irritação da bexiga (Kerber, 2005).

Produção da vanilina sintética
Teoricamente a vanilina sintética não possui diferença em relação à vanilina natural. Entretanto, na prática, existe diferença em relação ao cheiro e flavor. Essa evidência é relacionada ao fato de a vanilina natural ser o resultado de vários compostos extraídos que não existem na vanilina sintética (Mukhopadhyay, 2005).

Segundo Pacheco, Júnior e Morgado (2007):

“Os custos elevados, somados aos pequenos rendimentos da produção de vanilina natural, estimularam a pesquisa por rotas de produção de vanilina sintética. Dessa forma, em 1874-1875, menos de vinte anos após seu isolamento e caracterização, a molécula de vanilina foi sintetizada a partir do eugenol tornando-se disponível comercialmente na França e Estados Unidos por 176,00 dólares por quilo (Hocking, 1997). O eugenol (encontrado no óleo de cravo) [Figura 5] continuou a ser utilizado como material de partida para a síntese de vanilina até 1920”. (p. 46-47)

Figura 5: Estrutura química do eugenol.
Figura 5: Estrutura química do eugenol.
Embora, a produção de vanilina por essa rota sintética possuir alto rendimento, esta consumia grandes quantidades de reagentes, o que desmotivou a produção da molécula por esse método. Mais tarde, a vanilina passou a ser sintetizada a partir da lignina contida no licor negro (Kortekaas e cols, 1998).

O licor negro é um resíduo das indústrias de papel e celulose que possui conteúdo de sólidos dissolvidos e uma grande diversidade de substâncias químicas oriundas da degradação de lignina (fenóis de baixa e alta massa molar e de toxicidade reconhecida) e polissacarídeos. A hipótese de que a vanilina poderia ser sintetizada a partir de substratos constituídos de lignina foi realizada por meio de uma publicação anônima em 1875 (Hocking, 1997).

A produção industrial de vanilina a partir da lignina contida no licor negro começou nos Estados Unidos em 1936 com a Salvo Chemical Corp. e a Marathon Paper Mills Co. de Wisconsin, utilizando a tecnologia desenvolvida por Tomlinson e Hibbert (Kortekaas e cols, 1998). Um ano depois, a Howard Smith Paper Mills Ltd. desenvolveu a primeira planta de produção de vanilina em grande escala no Canadá. Estudos realizados pela Ontario Pulp and Paper, em 1940, levaram à construção da segunda planta de produção de vanilina, chegando a uma produção de 227.000 Kg/ano em 1945 (Hocking, 1997).

Embora a produção de vanilina a partir do licor negro ter sido parcialmente motivada pelo interesse em reduzir o conteúdo de ligninas, açúcares e, consequentemente, a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) desse rejeito, o processo possuía muitos inconvenientes como o fato de gerar um grande volume de resíduos tóxicos. Para produzir 1 kg de vanilina, eram utilizados 160 kg de líquidos cáusticos e gerados 150 kg de outras substâncias sem importância comercial e de reconhecido caráter tóxico (Hocking, 1997; Furukawa e cols., 1998; Greener Industry, 2008). Esse fator acabou levando ao fechamento das plantas no Canadá e nos EUA no fim da década de 1980 e início de 1990 (Hocking, 1997).

Atualmente, a maior parte da vanilina sintética é produzida por meio do uso de precursores derivados do petróleo. Os precursores oriundos da indústria petroquímica mais utilizados são o guaiacol e o p-cresol (Mukhopadhyay, 2005). Tais rotas vêm sendo mais usuais, pois elas são mais econômicas em relação às rotas que utilizam lignina e geram menos efluentes devido aos rendimentos das reações serem maiores (Hocking, 1997).

Produção da vanilina por meio de processos biotecnológicos
O aumento da população mundial impulsionou o crescimento de mercados especialmente voltados à produção de alimentos. Concomitante ao aumento do consumo de alimentos, encontra-se o aumento da demanda por aditivos alimentares, tais como a vanilina.

De acordo com o International Programs Center (U.S. Census Bureau), no mês de julho de 2010, estimou-se que a população mundial estava em mais de seis bilhões e oitocentas e cinquenta milhões de pessoas (Internacional Programs, 2010). Para suprir as necessidades da população, a inserção e o desenvolvimento de produtos sintéticos foram necessários devido ao fato de grande parte da superfície do planeta já ter sido ocupada pela agricultura. Apesar de os produtos sintéticos terem tornado-se imprescindíveis para o sustento da população mundial, existe um movimento crescente que impulsiona o consumo de produtos naturais (Furukawa e cols., 1998). Dessa forma, a vanilina sintética produzida de forma rentável e menos poluente por meio de precursores derivados do petróleo se confronta com o fato de utilizar compostos não renováveis para sua produção e, ainda, o de ser um produto sintético. Para contornar o dilema entre a grande demanda necessária dessa molécula e de se caracterizar como um produto sintético, a biotecnologia vem se mostrando como uma promissora solução.

Diversas publicações vêm demonstrando as formas de produção biotecnológica de vanilina. De acordo com Daugsch e Pastore (2005), quando essa molécula é produzida por meio de processos biotecnológicos, ela é considerada um produto natural, pois é oriunda de compostos de fontes renováveis e com custos relativamente baixos se comparados ao processo de extração da vanilina natural. Ainda segundo os autores citados, a produção biotecnológica da vanilina ocorre mediante o uso de extratos enzimáticos brutos ou enzimas purificadas produzidas principalmente por microrganismos ou plantas ou ainda por culturas de células.

Dentre os diversos compostos utilizados como precursores para a produção biotecnológica da vanilina, é possível citar a vanilil-amina, que pode ser extraída da pimenta. O estudo de Lesage-Meessen e cols. (1997) demonstrou que a vanilil-amina pode ser convertida em vanilina por meio da ação da enzima álcool vanililoxidase (EC 1.1.3.38).

Outra molécula que vem sendo intensamente estudada como precursora para a produção biotecnológica da vanilina é o ácido ferúlico que, por sua vez, é o componente majoritário da lignina. É válido ressaltar que a lignina, logo após a celulose, é a substância orgânica mais abundante da natureza. Dentro desse contexto, diversos fungos e bactérias capazes de biodegradar o ácido ferúlico vêm sendo isolados e estudados com o objetivo principal de se compreender os complexos mecanismos que envolvem a biodegradação da lignina e, consequentemente, a dos compostos fenólicos que a constituem. O ácido ferúlico também é encontrado em quantidades significativas na parede celular de exemplares importantes para a agricultura, tais como arroz, trigo, milho e beterraba (Narbad e Gasson, 1998).

Outros compostos fenólicos obtidos por meio de fontes naturais também podem ser utilizados para a produção biotecnológica de vanilina como, por exemplo, o ácido vanílico. O ácido vanílico também vem sendo citado em algumas publicações como composto intermediário formado antes da produção de vanilina a partir do ácido ferúlico. Alguns autores, tais como Lesage-Meessen e colaboradores (1996) e Stentelaire e colaboradores (2000), ilustraram a obtenção rentável de vanilina a partir de ácido vanílico, utilizando o fungo Pycnoporus cinnabarinus. Esse fungo não ocorre no hemisfério sul, porém é da mesma família que o Pycnoporus sanguineus, conhecido popularmente no Brasil como “orelha de pau” (Pacheco, Morgado e Furigo Júnior, 2008).

Considerações finais
Por meio do exposto anteriormente, foi possível observar que a vanilina é uma molécula de suma importância, estando presente sob várias formas em nosso cotidiano. Também foi possível vislumbrar os aspectos relacionados à sua origem e principalmente quanto às formas de produção, em que foi possível classificar a vanilina como natural ou sintética. Foi possível verificar que existe um grande campo a ser explorado no que tange à produção biotecnológica desse aroma, uma vez que as substâncias produzidas por esses processos são consideradas substâncias naturais.

  • Referências
    1. ALMEIDA, A. e FERREIRA, M. Vanilina.
    2. ANGELO, P.M. e JORGE, N. Compostos fenólicos em alimentos: Uma breve revisão. Revista Instituto Adolf Lutz, v. 66, p. 232-240, 2007.
    3. ANTONIOLLI, L.R.; BENEDETTI, B.C.; SOUZA FILHO, M.S.M. e BORGES, M.F. Avaliação da vanilina como agente antimicrobiano em abacaxi ‘Pérola’ minimamente processado. Revista Ciência Tecnologia de Alimentos, v. 24, p. 473-477, 2004.
    4. BYTHROW, J.D. Historical perspective Vanilla as a medicinal plant. Seminars in Integrative Medicine, v. 3, p. 129-131, 2005.
    5. CLARK, G. S. Vanillin. Perfurmer Flavorist, v. 15, p. 45-54, 1990.
    6. CLASSIC ENCYCLOPEDIA. Vanilla. 2006.
    7. COURTEUR, P. L. e BURRESON, J. Os botões de Napoleão. As 17 moléculas que mudaram a história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
    8. DAUGSCH, A. e PASTORE, G. Obtenção de vanilina: oportunidade biotecnológica. Química Nova, v. 28, p. 642-645, 2005.
    9. FURUKAWA, H.; WIESER M.; MORITA, H.; SUGIO, T. e NAGASAWA, T. Purification and characterization of eugenol dehydrogenase from Pseudomonas fluorescens E118. Archives Microbiology, v. 171, p. 37-43, 1998.
    10. GREENER INDUSTRY. Production methods summary.
    11. HOCKING, M.B. Vanillin: synthetic flavoring from spent sulfite liquor. Journal of Chemical Education, n. 74, p. 1055-1059, 1997.
    12. KERBER, K. L. Sexual selection in man. New Delhi: Global Vision, 2005.
    13. KORTEKAAS. S.; VIDAL, G.; YAN-LING, H.; LETTINGA, G. e FIELD, J.A. Anaerobic-aerobic treatment of toxic pulping black liquor with upfront effluent recirculation. Journal Fermentation Bioengineering, v. 86, p. 97-110, 1998.
    14. LAMPMAN, G.M.; ANDREWS, J.; BRATZ, W.; HANSSEN, O.; KELLEY, K.; PERRY, D.A. e RIDGEWAY, A. Preparation of vanillin from eugenol and sawdust. Journal of Chemical Education, n. 54, p. 776-778, 1977.
    15. LESAGE-MEESSEN, L.; DELATTRE, M.; HAON, M.; THIBAULT, J.F.; COLONNA, C.B.; BRUNERIE, P. e ASTHER, M. A two-step bioconversion process for vanillin production from ferulic acid combining Aspergillus niger and Pycnoporus cinnabarinus. Journal of Biotechnology, v. 50, p. 107-113, 1996.
    16. LESAGE-MEESSEN, L.; HAON, M.; DELATTRE, M.; THIBAULT, J.F.; CECCALDI, C. e ASTHER, M. An attempt to channel the transformation of vanillic acid into vanillin by controlling methoxyhydroquinone formation in Pycnoporus cinnabarinus with cellobiose. Applied Microbiology and Biotechnology, n. 4, p. 393-397, 1997.
    17. LOMASCOLO, A.; STENLELAIRE, C.; ASTHER, M. e LESAGE-MEESSEN, L. Basidiomycetes as new biotechnological tools to generate natural aromatic flavours for the food industry. Trends in Biotechnology, v. 17, p. 282-289, 1999.
    18. MAURYA, D.K.; ADHIKARI, S.; NAIR, C.K.K. e DEVASAGAYAN, T.P.A. DNA protective properties of vanillin against γ-radiation under different conditions: possible mechanisms. Mutation Research Genetic Toxicology and Environmental Mutagenesis, n. 643, p. 69-80, 2007.
    19. MEC/SEMTEC - Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais - Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMTec, 2002.
    20. MUKHOPADHYAY, A. K. Industrial chemical cresols and downstream derivateds. New York: CRC, 2005.
    21. NARBAD, A. e GASSON, M. Metabolism of ferulic acid via vanillin using a novel CoA-dependent pathway in a newly-isolated strain of Pseudomonas fluorescens. Microbiology, n. 144, p. 1397-1405, 1998.
    22. ORTOBOTANICO. Serre delle piante utili.
    23. INTERNACIONAL PROGRAMS. World Pop Clock Projection.
    24. PACHECO, S.M.V.; MORGADO, A.F. e FURIGO JÚNIOR, A. Biossíntese de vanilina por três isolados de Pycnoporus sanguineus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA QUÍMICA, 17, 2008, Recife. CD Anais COBEQ 2008. Recife, 2008.
    25. PELCZAR, M.J.; CHAN, E.C.S. e KRIEG, N.R. Microbiologia. Conceito e aplicações. v. 1. 2 ed. São Paulo: Pearson Makron, 1997.


PACHECO, S. M.V; DAMASIO, F. Vanilina: Origem e propriedades. Química Nova na escola, v. 32, n. 4, 2010. Disponível em http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=54

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Aula sobre polímeros

Queridos, como prometi, ai estão os vídeos utilizados em nossa última aula.
Só para lembrar que o tema oficial eram os polímeros, porém, comentamos também a questão da reciclagem de plásticos.
Qualquer dúvida entre em contato.
Click aqui para assistir ao vídeo "A química do fazer",  "Reciclagem de Pet" ou ainda "Reciclagem de lixo".
Para terminar uma experiência sobre polímeros.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Curiosidades

No link abaixo você terá acesso a um site onde poderá manter-se antenado na Química.
Então divirta-se!!!!